O sofrimento dos outros
Gerou-se aí algures, suportada pelas declarações do psicólogo Luís Villas-Boas, uma corrente de criticismo à actuação dos pais da menina inglesa desaparecida no Algarve. Escolher um momento destes para tecer juízos sobre o comportamento dos pais – juízos já de si de duvidosa validade empírica – revela sobretudo sede de notoriedade, uma tendência para a moralzinha e um certo prazer na repreensão de terceiros.
Não tenho muitas histórias destas, ou destas, para contar. Mas, a tê-las, publicá-las-ia sem hesitação. Neste momento de mistificação do que é a actuação parental torna-se importante oferecer exemplos concretos que desmontam essas perigosas imagens de pais-exemplo e de super-pais, que alguns pretendem fazer passar como verdadeiras e únicas merecedoras de sanção positiva.
Ainda assim, e por razões óbvias, não é o processo de mistificação em curso que mais choca. É, antes, a frieza desumana das declarações e a quase total desconsideração perante o sofrimento alheio.
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