Tuesday, July 31, 2007

O processo

Na sequência dos posts que o Lutz Bruckelmann dedicou ao Museu de Berlim, ao lado dos comentadores mais habituais no Quase em Português surgiram uma série de outros comentários que se afastam radicalmente do nível habitual para aqueles lados. Esses comentários oscilavam entre o proselitismo e o ressentimento, tendo em comum a recusa dos números geralmente avançados na sinistra contabilidade dos mortos no Holocausto.

A questão dos números, embora não seja, de todo, a mais importante, não pode ser simplesmente ignorada. Costuma dizer-se que um morto é uma tragédia, cem mil mortos são uma estatística. A substância contida nesta sentença é a de que uma vida pode ser sempre reconduzida à sua história, aos que lhe são próximos, ao que deixa para trás. Mas um exercício desta natureza é virtualmente impossível quando o número de vítimas aumenta exponencialmente. Existe, de facto, uma dupla impossibilidade. Em primeiro lugar, porque é absolutamente impossível reter na memória a história de vida de cem mil pessoas. Em segundo lugar, porque, se o fosse, o sofrimento associado à memória das vítimas, das suas vidas destruídas, das suas famílias desfeitas, da sua obliterada dignidade, seria humanamente insuportável.

A mecanização das fábricas de morte que caracteriza os campos de extermínio surge não tanto pelo apego nazi à ordem – apego, já de si, bastante sobrevalorizado – mas antes pela ameaça que os fuzilamentos dos esquadrões de morte representavam para o moral dos homens neles envolvidos. Ao encarar de frente os olhos das vítimas sobressai a vida, a individualidade, eclipsando-se o número e a abstracção.

Focar a atenção, quando se fala nas mortes associadas ao nazismo, nos números e na confiança que eles merecem é falhar o que é mais importante nesse período negro da história mundial. Apurar os números correctos é tarefa para historiadores sérios e empenhados. Mas existe uma visão mais abrangente do que os números, que ultrapassa a disciplina da história e pertence, acima de tudo, aos domínios da filosofia e da moral. Os números assumem uma importância secundária quando comparados com o aspecto que constitui a essência do terror nazi: o processo.

O processo de actuação nazi, fundamentado na sua fantasiosa ideologia racial, caracterizou-se sempre pela exclusão. Foram excluídos os judeus, os ciganos, os eslavos, os comunistas, os homossexuais, os deficientes e os doentes mentais. Se o resultado da guerra tivesse sido favorável aos nazis, a seguir preparavam-se para excluir todas as pessoas com insuficiências cardíacas e pulmonares. A essência do totalitarismo é o perpétuo movimento. É necessário que o processo de exclusão nunca esteja concluído, que exista sempre um novo alvo, definido ao sabor das necessidades do momento.

Em conclusão, saber se morreram exactamente seis milhões de judeus nos campos de concentração nazis não é tão importante quanto é a noção de que todos estamos incluídos no rol de potenciais vítimas de um regime desta natureza. É o processo que é fundamental – a necessidade de matar, de excluir social e biologicamente, para continuar a afirmação do regime.

Monday, July 30, 2007

Decisões

Um dia vou ter de decidir se isto é uma forma decente de tratar um blogue.

Monday, July 23, 2007

Vamos ao fim do mundo, vamos ao fim da rua, vamos à janela

Às 8:30 da manhã, a TSF abriu o seu noticiário com uma reportagem sobre a previsão do tempo para hoje.

PSD - momento actual

Um líder com medo de perder e uma oposição interna com medo de ganhar.

Tuesday, July 17, 2007

Números e pessoas

No Brasil, cuja população ascende a quase 200 milhões de habitantes, 130 mil pessoas representam mais de metade do PIB do país. Às vezes convém relembrar estas realidades quando se fala de desempenho económico.

Monday, July 16, 2007

Comércio tradicional

Um bom barbeiro faz sempre falta.

Os derrotados

O PSD e o PP perdem em toda a linha. O PSD perde por ter apoiado um candidato que mais tarde se viu não merecer confiança. Perde por ter tardado em retirar-lhe a confiança política. Perde por ter registado o pior resultado eleitoral de sempre em Lisboa. Perde por ter passado a terceira força política. E perde por ter à sua frente, em segundo lugar, precisamente a lista que de Carmona Rodrigues. Não há milagre que salve Marques Mendes. Mais do que a derrota de Fernando Negrão, esta foi a derrota da liderança social-democrata em Lisboa.

Por seu lado, o PP paga o preço da estratégia de poder partidário de Paulo Portas e dos seus acólitos, assim como o afastamento de Maria José Nogueira Pinto, que, concorde-se ou não com o seu posicionamento político, é tida por pessoa séria e responsável. O PP encontra-se, assim, numa posição muito ingrata. Se os resultados de Lisboa levarem a um novo congresso, é impossível não ver nisso uma derrota claríssima de Portas e um desfasamento muito grande entre o seu estilo e a sensibilidade do eleitorado. Se a direcção optar por se manter em funções, arrisca-se a continuar a registar derrotas inéditas e a depauperar a sua base eleitoral, tanto ao nível local, como ao nível nacional.

Mas se a história política recente nos ensina alguma coisa em relação ao PP de Portas é que não existe cenário que o populismo e a sede de protagonismo desta liderança não consigam distorcer à sua medida. Se nada em Marques Mendes pode mantê-lo na liderança do PSD por muito mais tempo, Portas já mostrou que a sua criatividade e desrespeito pelo bom senso e inteligência do eleitorado conhecem outros limites.

Friday, July 13, 2007

A inflação não é uma abstracção

“A culpa não é minha”, disse a senhora da caixa registadora quanto pediu 9,30€ por duas meias de leite e duas sandes mistas.

Thursday, July 12, 2007

Groupies

Eu sabia que comprar aquela guitarra eléctrica havia de mudar a minha vida.

Relativismos

Intolerantes são os outros. Nós somos muito abertos a brincadeiras com os nossos símbolos religiosos.

A política é outra coisa

"António Costa foi ontem forçado, pela primeira vez na campanha eleitoral para a Câmara de Lisboa, a "descer" ao terreno do combate político puro e duro, dedicando o essencial de um discurso, feito perante idosos no Mercado da Ribeira, a responder a ataques dos adversários a personalidades da sua candidatura."

O combate político puro e duro não é, nem nunca foi, responder a ataques pessoais, tal como não passa por ser responsável por esses mesmos ataques. Isso, quanto muito, é a politiquice. A política pura e dura são os assuntos do Estado, antigamente a cidade-estado, hoje mais o Estado-Nação. As raízes da política encontram-se no poder e no seu exercício, na governação afinal de contas, assim como no discurso, nos argumentos usados com vista a alcançar o exercício do poder ou a justificar as opções defendidas.
O ataque pessoal, baseado em suposições ao invés de se apoiar em factos, não tem como finalidade convencer mas criar dúvidas. Que num jornal de referência se julgue que a política pura e dura é a dos ataques pessoais e respectivas respostas revela muito sobre a nossa imprensa e sobre o que podemos esperar dela.

Wednesday, July 11, 2007

Mundo Novo

No Estado Civil, um testemunho de Maria Emília Correia sobre a difícil relação entre o envelhecimento e as dificuldades acrescidas no mercado de trabalho. Maria Emília Correia fala da profissão de actor, mas as suas palavras não se esgotam neste meio. Depois dos 40, arranjar emprego em qualquer área é uma tarefa dura e ingrata.

O problema da nossa sociedade não é um problema de obsessão com os novos, e sim um problema de obsessão com o novo. Vivemos um tempo que está sempre disposto a glorificar a next big thing, mas que tende a prestar infinitamente menos atenção às actuais big things. Isto acontece nas artes, no desporto, no mundo empresarial e até na política. A expectativa e a promessa futura têm um peso social muito maior do que o valor seguro e confirmado.

Eventualmente, nos campos com pretensões de retratar a realidade, como é o caso (embora, claro, nem sempre) do teatro e do cinema, existe a tendência de reproduzir os vícios da sociedade. Assim, se a sociedade é machista e hipervaloriza o novo, uma representação fiel há-de reproduzir estas estruturas sociais. Se os actores e actrizes encontram dificuldades acrescidas de empregabilidade em função da idade, isso não reflecte uma particularidade do seu meio profissional, mas uma característica generalizada das sociedades actuais.

A questão ambiental e a pobreza representam dois dos problemas mais importantes nesta transição de milénio. Mas a par delas, o outro grande desafio dos nossos dias é o lugar que reservamos aos mais velhos. Uma questão que, se não for por outra razão, por motivos demográficos, não pode ser ignorada muito mais tempo.

Tuesday, July 10, 2007

A vítima e o crime

Não sei se compreendo o dever que temos de não contribuir para desfechos nos quais somos vítimas de homicídio.

O debate que não vi

Não vi o debate. Mas o principal aspecto a reter, pelo que se vai lendo, parece ter sido a prestação de Fátima Campos Ferreira. Não tendo visto o debate e não tendo posto os olhos nas moderações de Fátima Campos Ferreira há uns bons tempos, consigo, ainda assim, imaginar perfeitamente o nível da prestação. E isto, pessoalmente, diz-me bastante sobre a marca indelével dos maus desempenhos da moderadora da moda. Na RTP ninguém nota, o que, a médio prazo, é irrelevante. As modas custam enquanto duram, mas todas passam.

Monday, July 09, 2007

Problemas de memória

Afirmar que as pessoas estão fartas de política é um recurso demagógico muito frequente. O ruído da vida política nacional é algo diferente e é razoável acreditar que as pessoas estejam realmente fartas dele. O ruído da vida política é tudo o que não é política, mas que consegue bastante tempo em jornais e televisões, presume-se, porque ajuda a vender.

O ruído é da responsabilidade dos seus autores, nomeadamente dos políticos que vêem no circo que gira em torno da política, mas que não é política, um meio legítimo de divulgação. Acaba por ser um expediente muito eficaz quando se precisa de notoriedade, mas as ideias e as propostas para o futuro, ou o registo do passado, não são definitivamente o melhor caminho para o conseguir.

Contudo, a divulgação do ruído e o destaque que lhe é reservado, em detrimento de outros assuntos bastante mais importantes para o país e para os eleitores, é da responsabilidade dos agentes da comunicação social. Como sempre, no final, os balanços serão críticos e não faltarão vozes com autoridade para mudar o rumo das coberturas a reconhecer os exageros. Como alguns políticos, que esperam que a memória dos eleitores seja suficientemente curta para obliterar os desvios, também essas vozes esperam que o consumidor esqueça o que não foi feito quando era necessário.

Objectivos

O vento não cessa. Parece não ter descanso enquanto não conseguir tudo aquilo a que se propôs.

Friday, July 06, 2007

Pequenas diferenças

Entre o que a Secretária de Estado da Saúde disse e o que andam a dizer que ela disse parecem existir algumas diferenças que não são despiciendas.

Thursday, July 05, 2007

A democracia em Timor-Leste

Como é bonita a democracia em funcionamento. Como é agradável e pedagógica a reunião de interesses para impedir que governe o partido mais votado nas eleições.
Se dúvidas houvesse, isto explica muitas das opções do ex-presidente de Timor-Leste na estranhíssima recente crise governamental.

Super Gelo

Um destes dias, inadvertidamente, furei o congelador com uma faca, enquanto tentava retirar o gelo acumulado. De imediato, libertou-se um gás, que, ao que me explicaram, terá um papel importante no sistema de refrigeração, o qual, involuntariamente, inalei durante alguns segundos, antes de reagir desviando-me e abrindo a janela. Aguardo impacientemente que os super-poderes, dos quais a visão raio-x e o sopro gelado são os mais desejados, se comecem a manifestar a qualquer momento.

Tuesday, July 03, 2007

Menor

Da segunda à terceira vai meio tom.