Deixem a sociologia em paz
A violência voltou às ruas de França após as eleições presidenciais e era apenas uma questão de tempo até que alguém viesse colar as "explicações sociológicas" às posições da esquerda, como quase sempre acontece em casos semelhantes [Helena Matos no Público, sem link disponível]. Ora, a sociologia não justifica nada; analisa e explica, mas as justificações, essas, não se podem imputar à ciência social inaugurada por Auguste Comte. Quanto à esquerda, não se lhe pode propriamente apontar o dedo por tender a embrenhar-se um pouco mais na raiz dos problemas antes de partir para a adjectivação fácil. Compreender e justificar têm significados diferentes na linguagem científica, na linguagem política e na linguagem quotidiana, mas confundir as duas coisas é um recurso muito em voga na direita desde o 11 de Setembro.
Parece haver algumas pessoas que não simpatizam com a disciplina da sociologia e que não se coíbem de a desprezar com o fito de atacar os seus adversários políticos - como se uma ciência, com um objecto, um método e um corpo teórico definidos e autónomos, tivesse menos valor pelo tipo de problemas que elege estudar. Mas, enfim, a sociologia também explica estas formas de discussão política.
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