Tuesday, May 15, 2007

Desistir

Não sou daquelas pessoas que distingam entre amigos e bons amigos. Os meus amigos são todos bons. Talvez por isso, sempre tive poucos amigos. Apesar da relativa constância das minhas amizades, já perdi várias delas. As razões não são particularmente interessantes. Na maior parte dos casos porque cada pessoa acabou por seguir a sua vidinha. Apenas duas vezes, que me lembre, por manifesto ressentimento mútuo – e uma delas reatada passados alguns anos.
Foi só mais recentemente que me aconteceu sentir que perdia uma amizade sem ser capaz de identificar uma justificação plausível. Hoje, sem que seja capaz de explicar o porquê, percebi que esta não é uma amizade perdida, mas sim uma amizade da qual se desistiu. Não se tratou de uma circunstância, mas de uma opção e, finalmente, tomei consciência disso. Seria de esperar que de algo assim sobreviesse uma certa tristeza, mas tal não aconteceu e já nem isso me surpreende. A indiferença é o melhor sintoma dos encerramentos consumados.
Daqui a umas semanas lá estaremos na cerimónia de casamento entretanto anunciada. Mais por deferência – o que, em si mesmo, não é mau –, mas com a plena noção da falta de envolvimento afectivo. A ocupar-nos o pensamento estarão as roupas adequadas, as viagens e as reservas do hotel. Exactamente o tipo de merdices que sobram para ocupar os vazios.