O fim como princípio
É difícil dizer mais e melhor do que o que tem sido escrito pela Fernanda Câncio e pela Susana Bês a propósito do casamento e da sua dissolução. Mas, ainda assim, um ponto merece alguma atenção suplementar. Fica bastante claro nos posts que o João Miranda tem elaborado sobre este tema que, segundo ele, ao dificultar-se o rompimento do contrato, contribui-se para a sua estabilidade e perenidade. Nada mais longe da verdade. Num contrato desta natureza, que tem na sua génese as relações de afectividade entre duas pessoas, quanto mais por garantido se tem a sua continuidade, tanto mais fácil se torna para os envolvidos deixarem de se empenhar activamente no seu relacionamento.
O amor tem fim, as paixões têm fim, as amizades têm fim – e são tantas as pequenas e grandes razões que lhes põem termo que é impossível enumerá-las. Esquecer ou ignorar estas realidades é arriscar caminhar no sentido de não agir a tempo de manter viva uma relação. Um relacionamento dá trabalho e pode acabar mais facilmente do que pretendem as elaborações românticas. Nenhum pedaço de papel escrito pode dar segurança do contrário, embora, na mente de alguns, possa alimentar uma ilusão mais prejudicial que outra coisa qualquer.
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