Salários baixos vs. qualificações
A qualificação tem preço. O salário do trabalhador qualificado representa um custo mais alto do que o do trabalhador desqualificado. Em Portugal pouco se aposta na qualificação. Compreende-se: sai mais caro e implica uma reestruturação dos modelos de organização das empresas. É por isso que, entre outros motivos, tendo Portugal falta de profissionais qualificados, regista taxas altas de desemprego entre os licenciados.
Os salários baixos em Portugal são um facto. Nesse sentido, Manuel Pinho limitou-se a fazer notar o óbvio aos empresários chineses. Mas se os factos são neutros, a leitura política não o é. E entre o argumento dos baixos salários para atrair investimento invocado por Manuel Pinho e a aposta na qualificação dos portugueses, patente nas intenções do QREN, ou mesmo no exemplo do modelo finlandês, anteriormente apontado por José Sócrates, existe uma enorme contradição. Ou se pretende um país que atraia investimento pelos baixos salários praticados ou se pretende um país com níveis de qualificações elevados, as quais se fazem pagar na razão directa da sua excelência. As duas coisas, em simultâneo, é que não.
Contudo, as declarações do ministro, para além de politicamente inábeis, são estrategicamente desadequadas. Portugal até pode pagar dos salários mais baixos na Europa, mas dificilmente pode competir com os salários praticados, por exemplo, nalguns países asiáticos. Mais ainda, se o desígnio para Portugal é a convergência com a média da UE, o caminho não pode passar por atrair investimento com políticas de baixos salários. Pelo contrário, a solução mais viável é direccionar a economia para a criação de mais-valias significativas nos seus produtos e serviços, algo que se consegue com especialização e qualificação. E isto não sai barato.
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