O fenómeno
Os parâmetros pelos quais Alberto João Jardim se guia são muito seus. O paradoxo é que continua a ser tratado, deste lado da República, como qualquer outro interlocutor, como se os desrespeitos, as chantagens e o défice democrático não existissem. Sabe-se que quando Alberto João Jardim fala dos “madeirenses” não se está a referir a todos os madeirenses. Fala apenas para e dos que nele votaram. Fala dos compadrios, dos conluios, dos interesses, dos grupinhos, das clientelas e das influências. São esses os seus “madeirenses”. Os outros não interessam, quer estejam na Madeira quer não. Jardim não trabalha para o bem da Madeira e dos madeirenses; trabalha para o bem da sua Madeira e dos seus madeirenses. Essa é a sua marca mais distintiva, que tem apostado na promiscuidade entre o partido, o aparelho de Estado e a sociedade para cimentar dependências mútuas e tornar muito mais difícil a vida a quem se encontra excluído deste círculo viciado.
Jardim tem sido, até hoje, um fenómeno localizado. Mas há já alguns anos que corre o rumor que há-de tentar o salto político do cenário regional para o cenário nacional. Talvez seja difícil que o homem que tanto atacou o “continente” e as suas instituições de soberania se consiga impor como actor político precisamente nesse palco. Mais importante ainda, a sua esfera de influência esgota-se bastante no arquipélago onde é senhor absoluto há 30 anos. Fora dele não reúne os condicionalismos que construiu nestas três décadas e que lhe garantiram reeleições sucessivas.
Mas convém não menosprezar o poder da demagogia e do mito. Não são poucos os casos de políticos que estão longe de corresponder a modelos exemplares, mas que granjearam o apoio suficiente para assegurarem a sua eleição. De facto, esta é uma realidade desagradavelmente familiar e que já se repetiu demasiadas vezes para que possamos estar descansados.
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