O filósofo Sócrates ficou célebre, não só pela sua condenação à morte, mas também por recrutar pessoas sonsas a quem fazia perguntas, assim demonstrando o enorme saber que aquelas possuíam. Marcelo Rebelo de Sousa, por seu lado, é célebre por recrutar pessoas sonsas para lhe fazerem perguntas, assim demonstrando o enorme saber que ele mesmo possui.
Por estes dias, Marcelo celebrizou-se também por uma das mais ambíguas e pouco coerentes posições sobre o referendo do aborto. Mas, por trás de toda esta ambiguidade, ressalta uma desconsideração pelo dilema da mulher grávida que pondera abortar e pela validade racional e afectiva da sua decisão. Quando MRS, tal como César das Neves ou Mário Pinto, avança com uma teoria da vulgarização do aborto sem motivo justo está a colocar em causa a competência e legitimidade do livre arbítrio da mulher grávida.
Em última instância, nenhuma pessoa se encontra a salvo de tomar decisões menos avisadas ou de não equacionar todas as alternativas que se apresentam. O erro, já os romanos o sabiam, é inerente à condição humana. Contudo, a crítica, que é uma actividade eticamente legítima, deve incidir sobre casos particulares e não sobre generalizações. É a diferença entre avaliar uma decisão concreta e avaliar, em abstracto, a capacidade das pessoas para tomarem decisões.
Tuesday, January 30, 2007
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