Monday, April 17, 2006

"Quando pedi aos meus leitores que fossem ao Rossio para lembrar simbolicamente as quatro mil vítimas do massacre de 19, 20 e 21 de Abril de 1506, nos dias em que passam 500 anos sobre o acontecimento – de forma absolutamente voluntária e desprovida de uma qualquer estrutura ou 'organização' (...).

(...)

A iniciativa que propus aos meus leitores, pelo menos para mim, sempre foi simples e translúcida: um gesto simbólico e individual, desprovido de qualquer carácter oficial ou de estrutura (religiosa ou política), propositadamente sem uma organização definida. Ninguém é obrigado a acender uma vela, tal como ninguém é obrigado a ler o blog. O desafio, para mim, era um desafio à memória."


Os primeiros dois parágrafos pertencem ao Nuno Guerreiro, que vem assim responder à discussão suscitada pelo Lutz. Meia dúzia de linhas como estas, ou ainda menos, a enquadrar o desafio que foi lançado na Rua da Judiaria e não só o post do Lutz não teria, com toda a certeza, sido sequer cogitado, como muito menos se teria dado a discussão que entretanto viu a luz do dia.

O Nuno Guerreiro, para concluir o seu texto, cita ainda o Francisco José Viegas:

"Não estou na disposição de discutir com ninguém a ideia de eu acender uma vela em homenagem às vítimas do Pogrom de 1506 e da Inquisição portuguesa. Eu vou. Não obrigo ninguém a ir. Não exijo que ninguém vá. Pedi a alguns amigos que me acompanhassem. A minha decisão é puramente individual, e quando escrevo «nós vamos» refiro-me aos que vão e querem ir. Portanto, não estou disposto a discutir aquilo que a minha liberdade individual e as minhas opções e crenças me levam a fazer.
Aliás, não entendo nem a natureza da discussão nem o seu objectivo."


A isto eu contraporia que quando alguém diz "eu vou", não obriga ninguém a ir. É a sua liberdade individual, a sua opção, a sua crença, nada a dizer. Mas quando alguém diz "vem comigo", eu sinto-me autorizado a perguntar "porquê". Sinto-me autorizado a pensar sobre isso, a exercer, também, a minha liberdade individual, a minha opção, a minha crença. Isto parece-me tão cristalino quanto me surgem agora as intenções do Nuno Guerreiro. Que ele se sinta triste, até ofendido, com o muito que se escreveu entretanto, é inteiramente compreensível. Que ele coloque o debate que se tem verificado entre aspas, muito sinceramente, é outra conversa diferente, e uma enorme injustiça para muitas pessoas que intervieram com toda a propriedade e sentiram a troca de pontos de vista, o mais que não seja, como um exercício de esclarecimento individual.

Este assunto, para mim, está encerrado.