Condenado, pois então, aos temas da semana passada, dediquemos algum tempo ao artigo de opinião de Luciano Amaral, do DN de quinta-feira. Nele, LA aborda um dos meus temas favoritos de discurso ideológico: as eleições legislativas em Espanha, depois do 11 de Março. Toda a gente tem os seus botões de disparo e este é um dos meus. Se se costuma dizer que uma mentira repetida muitas vezes se transforma em verdade, também pode ser que uma mentira denunciada outras tantas vezes acabe por não sobreviver.
Para LA, como se depreende da leitura, existiu um consenso entre a agenda do PSOE e a dos terroristas, a qual passou pela retirada do Iraque. LA escusa-se de reflectir sobre as razões apontadas pelo PSOE para retirar do Iraque. Esse exercício acarretaria, forçosamente, interpretações sobre a legitimidade e oportunidade desta guerra, que Zapatero, juntamente com a maioria da população espanhola, questionou e bem. Após não se ter comprovado a existência de armas de destruição maciça no Iraque, após se ter verificado que a guerra custaria e duraria muito mais que o previsto, após terem falhado todas as previsões optimistas de instauração de uma democracia ocidentalizada em Bagdad, após ficar patente o endosso de contrapartidas, sob a forma de contratos milionários para operar no Iraque, a grupos empresarias com estreitas ligações à administração Bush, após a abertura das portas de uma das maiores nações do Golfo Pérsico ao fundamentalismo islâmico e após o falhanço em deter o terrorismo a nível mundial, este é um tema do qual os defensores de primeira hora do intervencionismo bélico tendem agora a fugir.
Ao contrário do que LA, e outros como ele, quer fazer crer, o terrorismo não influenciou o resultado das eleições em Espanha. Foi, antes, a conduta do PP de Aznar e Rajoy, com as suas faltas à verdade, as suas deturpações e as suas manipulações que perderam, virtualmente sozinhos, essas eleições. O terrorismo talvez tenha querido ter influência no resultado eleitoral em Espanha, mas foi, ironicamente, a falta de cultura democrática que o PP evidenciou nessa altura, o condicionamento informativo e a tentativa, demasiado óbvia, de capitalizar politicamente a tragédia, que definiu a votação maioritária no PSOE.
Sem surpresa, LA embarca ainda em mais uma tentativa de confundir o "compreender", utilizado no sentido de saber, entender, conhecer, num "compreender" utilizado num sentido de desculpar, desagravar, aceitar. Para esta deturpação já vai sobrando pouca paciência. Quem teima em não compreender a diferença entre as duas acepções da palavra não pode reivindicar compreender grande coisa.
P.S.: Por uma questão de rigor, alguém deveria explicar a Luciano Amaral que o voo 93 foi o que se despenhou na Pensilvânia e não um dos dois que embateram no WTC.
Wednesday, April 26, 2006
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