Ainda na sequência da discussão em torno da iniciativa do Nuno Guerreiro, a Helena, no Dedos de Conversa, e a Ana Cláudia Vicente, n’O Amigo do Povo, levantam um tópico paralelo e bastante relevante: perante o receio da instrumentalização, a desconfiança facilmente se converte em paralisia ou em alienação das formas de associação.
Com efeito, existe um certo receio, da parte de quem reconhece os processos de manipulação como fenómeno indiscutível das sociedades actuais, de se ver por eles usado. Esse facto tende a gerar o cultivo da desconfiança como forma dominante de observação do real. Por exemplo, o afastamento entre a população e a política não é alheio a este fenómeno e qualquer análise decente deverá tê-lo em conta. No fundo, estamos perante um instrumento de defesa do indivíduo, mas cujas implicações devem igualmente ser consideradas.
Se um radicalismo dos que se escudam de tais processos manipulatórios é pouco recomendável do ponto de vista da sociabilidade e da solidez dos laços, não deixa de ser também evidente que o problema principal é menos a estratégia de defesa do que a ameaça que a faz surgir. Isto é, as críticas que se possam lançar ao imobilismo que esvazia os movimentos sociais têm necessariamente de ser compensadas, por uma questão de rigor, com a denúncia dos processos de manipulação que grassam nas sociedades contemporâneas. Denunciando estes últimos e criando mecanismos de defesa adequados contribuímos, desde logo, para a diminuição do individualismo exacerbado que deles deriva. Mais do que isso, como é óbvio, fortalecemos os princípios democráticos de liberdade de informação e de liberdade de escolha.
A manipulação afecta negativamente os fundamentos democráticos da liberdade e autonomia do indivíduo, assim como afecta, mais a jusante, através das reacções de defesa que pode gerar, a forma de relacionamento em sociedade. Os mecanismos de defesa terão de ser muito bem (re)equacionados, de forma a garantir que não estamos a corrigir um mal com outro. Mas que, nesse desígnio, não se esqueça que não é somente um problema que está em questão, mas sim dois, e que existe uma relação causal entre eles à qual não podemos ficar indiferentes.
Tuesday, April 11, 2006
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