Problemas de memória
Afirmar que as pessoas estão fartas de política é um recurso demagógico muito frequente. O ruído da vida política nacional é algo diferente e é razoável acreditar que as pessoas estejam realmente fartas dele. O ruído da vida política é tudo o que não é política, mas que consegue bastante tempo em jornais e televisões, presume-se, porque ajuda a vender.
O ruído é da responsabilidade dos seus autores, nomeadamente dos políticos que vêem no circo que gira em torno da política, mas que não é política, um meio legítimo de divulgação. Acaba por ser um expediente muito eficaz quando se precisa de notoriedade, mas as ideias e as propostas para o futuro, ou o registo do passado, não são definitivamente o melhor caminho para o conseguir.
Contudo, a divulgação do ruído e o destaque que lhe é reservado, em detrimento de outros assuntos bastante mais importantes para o país e para os eleitores, é da responsabilidade dos agentes da comunicação social. Como sempre, no final, os balanços serão críticos e não faltarão vozes com autoridade para mudar o rumo das coberturas a reconhecer os exageros. Como alguns políticos, que esperam que a memória dos eleitores seja suficientemente curta para obliterar os desvios, também essas vozes esperam que o consumidor esqueça o que não foi feito quando era necessário.
|