Mundo Novo
No Estado Civil, um testemunho de Maria Emília Correia sobre a difícil relação entre o envelhecimento e as dificuldades acrescidas no mercado de trabalho. Maria Emília Correia fala da profissão de actor, mas as suas palavras não se esgotam neste meio. Depois dos 40, arranjar emprego em qualquer área é uma tarefa dura e ingrata.
O problema da nossa sociedade não é um problema de obsessão com os novos, e sim um problema de obsessão com o novo. Vivemos um tempo que está sempre disposto a glorificar a next big thing, mas que tende a prestar infinitamente menos atenção às actuais big things. Isto acontece nas artes, no desporto, no mundo empresarial e até na política. A expectativa e a promessa futura têm um peso social muito maior do que o valor seguro e confirmado.
Eventualmente, nos campos com pretensões de retratar a realidade, como é o caso (embora, claro, nem sempre) do teatro e do cinema, existe a tendência de reproduzir os vícios da sociedade. Assim, se a sociedade é machista e hipervaloriza o novo, uma representação fiel há-de reproduzir estas estruturas sociais. Se os actores e actrizes encontram dificuldades acrescidas de empregabilidade em função da idade, isso não reflecte uma particularidade do seu meio profissional, mas uma característica generalizada das sociedades actuais.
A questão ambiental e a pobreza representam dois dos problemas mais importantes nesta transição de milénio. Mas a par delas, o outro grande desafio dos nossos dias é o lugar que reservamos aos mais velhos. Uma questão que, se não for por outra razão, por motivos demográficos, não pode ser ignorada muito mais tempo.
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