A TV Cabo avançou com uma campanha publicitária um tanto ou quanto idiota para promover os seus serviços a um preço, supõe-se, muito apetecível. Neste momento, há quem se esteja a preocupar com a ameaça aos valores familiares que a campanha representa. É um facto que a publicidade tem o poder de influenciar estilos de vida, mas não me parece que seja este o caso. A ideia, em si, não é das melhores, mas percebe-se que funcione mais pelo ridículo da situação do que por outra coisa qualquer. Se quisermos, mesmo assim, tomá-la à letra e aceitarmos que, por exemplo, um casal se possa separar porque o marido não assina a TV Cabo, temos de reconhecer que este casal não é capaz de comunicar sobre os assuntos mais banais de uma existência em comum e talvez não deva estar junto de todo.
Mas existe um outro aspecto que não tem recolhido a atenção destas mentes tão preocupadas com a fragilidade das relações conjugais dos portugueses. A responsabilidade de assinar o serviço TV Cabo pertence exclusivamente ao marido porquê? A mulher não tem emprego? Não tem conta bancária? Não tem independência e autonomia financeira? Não é ouvida em casa? Não tem voto na matéria?
As campanhas publicitárias são desenvolvidas por agências, levadas a cabo por produtoras e aceites ou recusadas pelo cliente final. Ou seja, há muita gente envolvida. Esta em particular até está a merecer o destaque de ser alvo de críticas em alguns blogues. No meio de toda esta gente, ninguém se sentiu demasiado incomodado com a subalternização explícita do lugar da mulher nas decisões do casal, o que se revela um excelente indicador do tipo de mentalidade reinante. E não se trata de uma especulação sobre os efeitos sociais nefastos de um determinado anúncio; é a constatação de um traço cultural tão dominante que surge como natural e nem sequer é questionado.
Friday, November 24, 2006
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