A CML quer criar salas de chuto na cidade de Lisboa. Através do French Kissin’, venho a descobrir que pretendem instalar uma delas no Bairro do Charquinho, que se localiza em Benfica, paredes meias com o cemitério e a meio caminho do CC Colombo. O Bairro do Charquinho, como o JMF nota, é um bairro social, mas um bairro social antigo, com uma densidade populacional baixa, com uma população de idosos apreciável, com espaços verdes, com lugares de estacionamento (uma raridade em Benfica), com comércio e, acima de tudo, perfeitamente integrado nas vizinhanças da freguesia. O Bairro do Charquinho não é um gueto nem se encontra perdido no meio de uma colina, afastado dos lugares que se pretendem bem frequentados, como agora se constroem os bairros sociais. O Charquinho não era conhecido, e continua a não ser, por ser porto de abrigo de rufias, de criminalidade ou de tráfico de droga.
Quando se quer abrir uma sala de chuto tem que se chatear alguém. Quem tenha de ficar com ela à porta de casa provavelmente não vai simpatizar muito com a ideia. Mas o problema neste caso é que o Charquinho não tem qualquer relação com a realidade da toxicodependência. Em Lisboa, desde há muito tempo, a droga compra-se preferencialmente no Casal Ventoso e na Curraleira. Existe droga um pouco por toda a cidade, mas o grosso do tráfico tem lugar nesses dois sítios. Os concelhos limítrofes de Lisboa também possuem zonas onde o tráfico e consumo de drogas assume especial relevo. Mas, em ambos os casos, estamos a falar, sobretudo, de zonas degradadas onde grassa a exclusão social em quase todas as suas vertentes.
Sendo a freguesia de Benfica uma das que confina o concelho de Lisboa, acaba por conhecer bastante bem essa realidade. Mas o Charquinho e as suas zonas circundantes, apesar de geograficamente próximas, encontram-se, na verdade, relativamente fora destes circuitos. Colocar o Charquinho no circuito da toxicodependência é uma decisão desprovida de sensatez e, arrisco dizer, de conhecimento de causa. As salas de chuto fazem sentido e são necessárias onde existe consumo. Se são uma tentativa de criar uma ferramenta que facilite a reintegração dos toxicodependentes e que diminua os riscos associados ao consumo, precisam de estar perto daqueles que querem ajudar. E esse lugar não é o Bairro do Charquinho.
Thursday, November 30, 2006
Subscribe to:
Comment Feed (RSS)
|