A interrupção voluntária da gravidez
"Entre 1990 e 1999 aumentou significativamente em Portugal a percentagem de indivíduos que aprovam o aborto no caso de a mulher não ser casada (40% de sim, contra 20% em 1990) e subiu moderadamente a dos que concordam com o aborto no caso de o casal não querer ter mais filhos (36% em 1999, 30% em 1990). Nem uns nem outros constituem, porém, a maioria – situação que, com a excepção do caso polaco (mais próximo de Portugal), contrasta vincadamente com a da União Europeia, com a da França (onde o sim ultrapassa os 60%) e, sobretudo, com a da Suécia (país onde a aceitação da interrupção voluntária da gravidez é quase unânime).
Por outro lado, o ‘sim’ ao aborto por vontade da mulher ou do casal encontra-se particularmente associado a alguns meios sociais, certamente próximos das classes médias urbanas; neles sobressaem os indivíduos mais jovens, os activos e os estudantes, os que acabaram os estudos mais tarde, os rendimentos mais altos, os residentes em aglomerados de mais de 10 000 habitantes e na metade sul do país – com particular destaque para a Região de Lisboa e Vale do Tejo. Do ponto de vista das suas condições familiares, é interessante notarmos que nestas franjas da população estão sobrerrepresentados os indivíduos que não possuem uma relação conjugal estável, os que vivem em união de facto, os solteiros e os divorciados/separados, os que não têm filhos ou têm apenas um filho."
Vala, J., Cabral, M. V., e Ramos, A. (org.), (2003), Valores sociais: mudanças e contrastes em Portugal e na Europa, Lisboa, ICS
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