Responsabilidade e bom senso
Pode muito bem ser que por trás da proibição de fumo nos restaurantes possa estar “a imposição de um projecto de vida saudável e asséptica”. Não me custa reconhecê-lo e enquadro essa corrente na família de outras, também sobejamente conhecidas, como as vacas sagradas que são o novo, a juventude e a beleza. Mesmo assim, não deixa de me parecer absurdo que se pretenda consagrar o direito inalienável de encher de fumo ambientes fechados e de incomodar e prejudicar terceiros.
No fundo, esta parece ser uma questão que se poderia resumir ao bom senso e à acção responsável. O problema é que, apesar do bom senso e da boa educação levarem a que não se incomode outras pessoas com o fumo do nosso cigarro, quando este é apenas um entre dezenas ou centenas, o princípio da responsabilidade individual dilui-se. Nisso de assumir responsabilidades e de respeitar o outro, convenhamos, sobram exemplos que demonstram não ser este o nosso ponto forte enquanto sociedade. Resta a ideia do policiamento mútuo, a qual, quando associado à delação, se reveste de contornos claramente fascizantes. Mas não de duvide que os indivíduos se vigiam. Toda a ordem social assenta nessa realidade. O que não se pode é pedir que o indivíduo exceda a vigilância social e passe a exercer a função de fiscalização, demitindo-se as autoridades competentes dessa tarefa.
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