O falso regresso
Tornou-se habitual ouvir dizer que Paulo Portas está de regresso à vida política activa. Trata-se de um equívoco. O regresso implica uma ausência e Portas nunca esteve realmente ausente do palco político. Paulo Portas não regressou, limitou-se a dar a cara. Deixou os bastidores e assumiu finalmente o papel que há muito reservou para si mesmo.
O CDS/PP é uma construção. Portas queria um partido e julgou mais conveniente, muito provavelmente com toda a razão, que isso seria mais facilmente alcançado apoiando-se numa estrutura já existente do que partindo do zero. Por aqui se percebe, por exemplo, toda a distância que o separa de Manuel Monteiro em termos de calculismo e de instrumentalização.
Monteiro foi a figura que testou o sistema e que serviu como ponto de aprendizagem e de afinação da estratégia. Quando a altura foi propícia, Portas tomou conta do projecto que era seu: um partido diferente, com um discurso renovado, preparado para cativar outro tipo de eleitores. Foi já quando a sua estratégia tinha esgotado a sua capacidade de expansão eleitoral que a hipótese de chegar à governação se atravessou à sua frente e que o CDS/PP se impingiu como alternativa para formar uma maioria parlamentar que apoiasse o novo governo.
Essa experiência terminou conforme se sabe e Portas percebeu-o rapidamente, encontrando na saída da liderança do partido a melhor forma de conter os danos pessoais que inevitavelmente se previam para o futuro próximo. Mas o CDS mais tradicional, que nunca simpatizou com Portas, nem com as suas estratégias, e que nunca se reviu no PP ainda se encontrava activo. Telmo Correia foi o escolhido para impedir o retorno desse CDS e falhou a sua missão. Contudo, através de um grupo parlamentar moldado à sua imagem e de toda uma nova geração de notáveis que deve muito da sua carreira política a Paulo Portas, a oposição interna à direcção de Ribeiro e Castro sempre foi uma realidade activa e nunca deu tréguas ao ressurgir do antigo CDS.
Dizer que Portas regressa é, por isso, um grande erro. O seu dedo esteve e está em quase tudo o que o CDS/PP tem passado nos últimos tempos. Simplesmente, agora chegou a altura da guarda avançada encarregue de preparar o terreno abrir alas para que o seu líder dispute o lugar que considera seu por direito natural.
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