Quanto mais restritas se tornam as condições de frequência de um determinado meio, menos pessoas se espera atrair. Isto é verdade em qualquer caso que se proponha. Sobem as exigências, desce o número de interessados. O papado de Bento XVI trilha inquestionavelmente esses caminhos.
O que mais surpreende nesta história, contudo, é um movimento intitulado “Nós Somos Igreja”. Surpreende não pelas suas reacções, mas pelo princípio de que parece partir, a julgar pelo nome que adoptam. As pessoas que compõem esse movimento serão fiéis, crentes, católicas, mas não são, definitivamente, Igreja. A Igreja é o Vaticano, a Cúria, as Conferências Episcopais, os Concílios, mas não foi, não é, nem será os fiéis. A estrutura e princípio funcional da ICAR, desde que ela se constituiu como tal, baseiam-se na hierarquização, no elitismo e, até, no despotismo iluminado. A ligação da Igreja aos seus fiéis não é um convite à participação livre e democrática. É um processo de conversão e coerção religiosa e moral.
Compreende-se que haja quem não se reveja nesta Igreja e compreende-se que haja quem pretenda modificá-la. Mesmo admitindo que podem alcançar alguma visibilidade para exporem os seus ideais, falta-lhes o essencial. Na realidade, não têm lugar nas assembleias onde se tomam as decisões relevantes para o futuro da ICAR, nem dominam os mecanismos que possibilitam ocupar esses lugares. Resta-lhes continuar a fazer pressão a partir do exterior, o que é legítimo e necessário, mas não suficiente.