Perante o abismo, um passo em frente
Como provocação barata e de muito mau gosto, houve quem tenha chegado a dizer que alguma esquerda se congratulava com o terrorismo fundamentalista que eclodiu no seio dos EUA e da Europa. Embora seja perigoso deixar a paranóia com rédea solta, pois corre-se o risco de passar a tomá-la pela realidade, tais disparates não mereceram nem merecem grandes considerações. De certa forma, ceder a este tipo de provocação seria reconhecer-lhe um estatuto de argumentação válida, o qual, manifestamente, lhe falta.
Hoje, mais do que logo após o 11 de Setembro, ou o 11 de Março, ou o 7 de Julho (curiosamente, os atentados diários no Iraque e as centenas de mortos na Índia e na Indonésia, por exemplo, ficam quase sempre fora destas contas), perante um coro crescente de críticas à guerra no Iraque e à putativa melhoria da segurança mundial, os apologistas da intervenção militar parecem clamar por mais uma desgraça de proporções desumanas para justificar a sua visão ultra-securitária. Não lhes interessa que tudo o que têm defendido desde que os EUA mostraram a ânsia de entrar no Iraque se tenha desmoronado com estrondo. A única teoria do dominó que tem funcionado tem sido a dos erros grosseiros e dos falhanços sucessivos nos quais a guerra no Iraque e a política externa dos EUA têm sido prolíficas.
Contra a mais pequena centelha de bom senso, as vozes do costume gritam por mais do mesmo. Compreende-se: está em curso uma das maiores self-fulfilling prophecies de sempre. Apostados em perseverar na sua estratégia, que apenas tem mostrado provocar maior instabilidade e insegurança, hão-de colher o amargo fruto que tantas vezes previram nas suas análises.
Entretanto, jogam com as vidas dos civis envolvidos nos seus jogos de poder e jogam com a vida dos militares que cumprem os seus caprichos. Quantos mais sofrerem, mais facilmente se provará que tinham razão.
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