Monday, January 09, 2006

Num daqueles programas idiotas sobre celebridades, a locutora, num tom jovial mas convicto, afirma que Kate Hudson tem uma personalidade e uma presença tão intensas que quase nos esquecemos de como é bonita.

Estes programas, perfeitamente idiotas – nunca é demais repeti-lo –, têm, no entanto, uma vantagem. Neles, os valores dominantes que o cinema e a televisão veiculam incessantemente encontram-se hipertrofiados, sendo, por isso, mais fáceis de detectar.
Um quadrilátero que tem como vértices o aspecto físico, o dinheiro, a moda e a conformação/correspondência com o sistema vigente.

Não há lugar para excepções à regra. Mas como todas as regras admitem excepções, o sistema encarrega-se de as proporcionar, para que o todo mantenha a sua aparência. Todas as excepções são meros simulacros fabricados pelo sistema, que aproveita para definir também o que é admissível como excepção. Os que se situam objectivamente à margem deste sistema não participam nele. Nunca os chegamos a conhecer. Mais do que esquecidos, foram sentenciados à inexistência.