Há alguns anos, o Porto foi trucidado pelo Barcelona num jogo a contar para as competições europeias. Desse jogo recordo Ronald Koeman a avançar pelo meio campo do Porto sem encontrar oposição, a rematar na passada, ainda a uma distância muito considerável da baliza, e, depois, a trajectória da bola, cheia de força e colocação, até se aninhar no canto superior da baliza, fora do alcance de Baía. Se não fosse por mais nada, estaria eternamente grato a Koeman por esse golo magnífico.
Mas há mais para lhe agradecer. Para um adepto como eu, os últimos anos do Benfica têm sido penosos. Más direcções, maus jogadores e más exibições seguidos de más exibições, maus jogadores e más direcções. Os resultados eram sempre incertos, mesmo em casa ou contra equipas do fundo da tabela. O distanciamento emocional era o refúgio de sanidade para tanta desgraça reunida num clube só.
Mesmo o campeonato dos penalties ganho por Trappatoni teve um sabor amargo. Saber que a história há-de registar que o fim do jejum se deu quando aos comandos do clube se encontrava a dupla Vieira/Veiga é algo que só pode custar a quem gosta do clube e acha que este merecia mais nessa sua hora de glória.
Mas, esta época, Koeman, com todas as limitações que já demonstrou como treinador, conseguiu acrescentar algo ao Benfica. O ex-jogador do Barcelona pôs a equipa a praticar um futebol muitas vezes agradável e deu rendimento a jogadores que se tinham eclipsado. Não desbaratou o capital de fé dos adeptos herdado de Trappatoni, mantém a equipa a lutar pelo título e alcançou mesmo alguns resultados vistosos.
Com essa mistura de resultados e exibições, Koeman devolveu-me o prazer de acreditar que o jogo em casa contra o Sporting seria um passeio no parque. A vitória era certa e a goleada não estava fora de questão. A verdade foi outra. O Benfica jogou muito mal, levou três em casa e perdeu justamente o jogo, o que me fez sofrer amargamente durante os noventa minutos do desafio e mais alguns após. Por esse sofrimento típico de quem esperava precisamente o oposto, estou-lhe muito grato. Sim, tenho que lhe agradecer a alegria do renascer da ilusão.
Monday, January 30, 2006
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