Tuesday, March 14, 2006

Num mundo perfeito as quotas não seriam necessárias. Num mundo perfeito não existiriam efeitos de distorção, nem discriminações, nem preconceitos. Mas, como sabemos, não vivemos num mundo perfeito.
As quotas fazem sentido porque os princípios de igualdade e de mérito se encontram deturpados. Não contrariam os fundamentos democráticos, antes tentam corrigir as insuficiências destes. Defender que os lugares devem ser ocupados por profissionais competentes tem tanto de consensual como de frase feita. Se a competência e o mérito fossem os únicos critérios, ou os mais importantes, para a mobilidade profissional e social, muito teríamos para ensinar ao resto do mundo. Mas o que se verifica é um desequilíbrio muito claro a favor do sexo masculino não só ao nível dos cargos ocupados como ao nível dos salários auferidos para o mesmo desempenho. Tal desequilíbrio, não tendo como justificativo razões demográficas nem de demérito, só se pode justificar por um machismo e uma misoginia muito enraizados na cultura portuguesa.
As quotas não são a solução ideal? É verdade, não são. Mas deixar as coisas como estão não pode ser a alternativa. Será assim tão difícil reconhecer que não vivemos no melhor dos mundos?