Thursday, November 24, 2005

Gostar de pessoas do mesmo sexo é pecado, afirma a Igreja Católica. Desconheço a passagem da Bíblia que o determina – a existir alguma – mas é esta a convicção do Papa Bento XVI. Penso que se pode perguntar, desde logo, à luz do que já se conhece sobre a atracção sexual, qual é o sentido de se considerar pecado uma inclinação pessoal que, numa grande parte, está fora do controlo do indivíduo? Se a Igreja Católica falar em práticas homossexuais, admito que é possível entender a lógica que sustém a classificação, ainda que se possa discordar frontalmente dela. Mas se é de uma inclinação, ou de uma orientação, que estamos a falar, a discriminação perde toda a sustentação.
Compreendo que a fé religiosa, que não possuo, se baseie em dogmas. Para a fé religiosa é fundamental acreditar em alguns fenómenos cuja verificação empírica, tal como a entendemos agora, não é possível: a existência de uma entidade superior, ou a existência de uma alma imortal. Mas, independentemente deste aspecto, os modelos morais, incluindo os preconizados por qualquer religião, têm que ter um fundamento racional. Têm que possuir sentido e inteligibilidade e a força do seu imperativo deve provir da solidez da demonstração da sua mais valia para a coexistência humana. Algo que parece falhar no que diz respeito à intransigência em relação à ordenação de homossexuais e, já agora, também de mulheres.
Esta é uma decisão que parece não pertencer ao século XXI. Mas, por outro lado, talvez a verdade seja outra. Talvez esteja inteiramente em consonância com a época em que é tomada e assim se perceba melhor o domínio da intolerância perante a homossexualidade e a subalternização do papel da mulher nas nossas sociedades.