Monday, December 05, 2005

Nunca fui bom aluno a trabalhos manuais nem a desenho. Aliás, não andarei longe da verdade se disser que se nunca chumbei à disciplina de educação visual foi sobretudo devido às autoavaliações no fim do ano lectivo, misturas refinadas de rigor objectivo das minhas limitações e de apelos à compreensão pela diversidade vocacional.
Lembro-me que uma das tarefas a realizar nas aulas de trabalhos manuais era dobrar folhas para formar caixas de papel de diferentes tamanhos. Nessas aulas, sentava-se ao meu lado uma rapariga muito simpática chamada Filipa. Não é que fôssemos grandes amigos. Nem sequer pertencíamos ao mesmo grupo. Ela tinha as amizades dela e eu as minhas. Mas a Filipa, que aliava a simpatia ao jeito para os trabalhos manuais, por alguma razão decidiu contribuir para minimizar a minha falta de talento. Como as caixinhas dela ficavam prontas num piscar de olhos, sobrava-lhe mais que tempo para tratar também das minhas. E isto, ainda por cima, sem que eu lho pedisse. Era ela que tomava a iniciativa e, de facto, parecia mesmo gostar de o fazer. Nunca a vi tirar-me as folhas das mãos ou entregar-mas na forma de graciosas caixinhas de papel sem ser com um sorriso na cara.
Hoje, olhando para trás e pensando um bocado nisso, desconfio que talvez – talvez – me tenha escapado qualquer coisa por esses dias.