Friday, December 16, 2005

A corrida à Presidência da República está, por convenção, artificialmente restringida a cinco candidaturas. As restantes são paulatinamente ignoradas, sobretudo por quem tem por missão fazer o trabalho de informação do público. Não há argumentação que resulte para defender esta discriminação. Trata-se de um défice democrático, independentemente das intenções de voto que se prevêem para cada candidato.
Seria preferível que os debates tivessem a participação de todos os candidatos, por uma questão da mais elementar justiça e porque o confronto de ideias é sempre enriquecedor. Bem moderados, estes debates não só não seriam confusos como teriam a mais valia de deixar de ser meras entrevistas simultâneas, que é o que têm sido os pretensos debates a dois.
Podemos ambicionar uma maturidade democrática em que, na ausência de condições de igualdade para todas as candidaturas, os debates começassem com manifestações de repúdio, por parte dos candidatos escolhidos pelas televisões, contra o tratamento anti-democrático da pré-campanha eleitoral. Sim, porque pedir o boicote puro e simples – o comportamento ético adequado perante esta situação – é uma utopia da qual não vale a pena falar por agora.
As condições assim impostas vão ajudando a formatar a mentalidade do eleitor. O leque de possíveis escolhas é reduzido segundo critérios inaceitáveis do ponto de vista do que deve ser o respeito pelas regras plurais do processo eleitoral. Talvez os debates não sirvam para decidir grande coisa. Se servirem, talvez sirvam mais para se escolher em quem não votar do que o contrário. Mas deixem que sejam os eleitores a tomar essa decisão.