Sunday, December 04, 2005

Do outro lado da estrada vê-se uma Igreja pequena e modesta. De outro tempo, nota-se bem. Quando descer à rua hei-de confirmar o ano da construção e o da recuperação. Alguém não quis que esses conhecimentos pertencessem só aos historiadores e colocou uma placa na fachada, para que todos os que queiram o possam saber. Há algo de nobre nos que partilham o seu conhecimento. Enfim, há algo de nobre nos que partilham.

É claro que, agora, vivemos na era da informação, que esta é poder e daí os esforços pelo seu controle. Julgo que isto tende a tornar-nos egoístas e, pior do que isso, julgo que esse é um efeito desejado pelos apologistas do darwinismo social que tomaram conta do leme. Mas a chave da questão não está apenas no que se sabe, mas também, ou até sobretudo, no que se pode fazer com o que se sabe. Eu, que também pouco sei de economia, dou por mim a perguntar de que me valeria saber mais se não tenho as oportunidades de colocar em prática o que sei, ou se, colocando, sou imediatamente boicotado caso não corresponda à ortodoxia do momento?

Também me interrogo que raio de mundo vão ter os meus filhos para usufruir? E, numa perspectiva mais individualista, que raio de velhice me estará reservada? Seja qual for o futuro, continuo com vontade de os educar de forma a que não sintam como legítima a desigualdade que se constrói a cada dia de "triunfo" do modelo económico em que vivemos. Se fizer um trabalho bem feito, como os meus pais souberam fazer, mesmo não sabendo nada de economia hão-de sentir-se desconfortáveis perante a miséria de tantos para a prosperidade de tão poucos. Hão-de desabafar que se é para isto que serve a economia, então não serve para grande coisa. E hão-de saber, ainda que apenas visceralmente, que por mais que nos repitam que é importante que o PIB cresça, o fundamental é que as pessoas tenham oportunidades reais para levarem uma existência digna.

Mais do que tudo, hão-de acreditar com toda a força que há outra forma de fazer as coisas, mesmo que não saibam indicar qual. Talvez digam, como o outro, que também era poeta, que, não sabendo por onde vão, sabem que não vão por aí.