Tuesday, June 06, 2006

Um dos aspectos que mais intriga no discurso dos que são contra a introdução de quotas para a igualdade de género é a invocação de uma putativa injustiça de se assistir à inclusão de mulheres que não estão lá pelo seu valor mas antes pela necessidade imperiosa de preencher vagas. Que tal recurso, afirmam, chega a ser vexatório para a condição dessas mesmas mulheres.

Por qualquer estranha razão, os apologistas desta visão não concebem que seja possível encontrar um número suficiente de mulheres competentes para preencher as ditas quotas. Partem imediatamente do princípio de que as quotas retiram o lugar a homens com basta competência para o lugar, para os trocar por mulheres impreparadas, sem outra utilidade que não a instrumentalização numérica. Evidentemente, para tal nunca se chega a demonstrar o superior mérito dos que actualmente enchem as listas partidárias, nem, concomitantemente, o demérito das que se encontram de fora.

O facto de, para alguns, não ser concebível que para cada dois lugares se possa encontrar um homem e uma mulher igualmente preparados para os ocupar é um dos melhores indicadores da mentalidade que reina e bastante revelador da necessidade quotas para corrigir este desvio discriminatório.