Friday, June 09, 2006

Num registo recheado de intransigência, Pedro Sá, no Descrédito, conclui um post clamando por "uma política dura de segurança". E diz ainda: "quero ver os mesmos que me chamavam fascista por defender isto agora a dobrarem a língua depois de Ségolène Royal vir defender políticas neste sentido."

As políticas que Pedro Sá defende passam, entre outras preciosidades, por afirmar que "a segurança do povo é muito mais importante do que qualquer humanismo", que "os projectos de vida de cada um não podem ser mais importantes que a segurança de todos", que "a reintegração e a recuperação são duas ideias que têm rapidamente de ser eliminadas do sistema penal" e que se deve proceder à "eliminação de todas as condicionantes à acção da polícia quando em combate ao crime".

Nada do que está escrito nesse post pode ser considerado de esquerda e quase tudo pode mesmo ser considerado fascista. O esboço de "política de segurança" ali delineado está ferido por um totalitarismo securitário intolerável em qualquer sociedade democrática. Revela, como não podia deixar de ser, uma concepção hiper-musculada das instituições formais de controlo e uma desvalorização da pessoa em detrimento do colectivo.

Há ideias que constituem uma pequena abertura para a infiltração do ideal totalitário nas sociedades democráticas. As noções expostas no Descrédito estão muito para além disso. São uma porta escancarada. Só falta saber se o Pedro Sá não percebeu isso ou se assume até ao fim as consequências do seu pensamento político e social.