Wednesday, October 25, 2006

Pode compreender-se que haja quem goste de insultar de cara tapada. Não se aceita, não se tolera, mas pode compreender-se: chama-se cobardia. Que se queira apresentar factos com a cara tapada também se compreende. Um facto é verificável e a sua verificação é independente da pessoa que o apresenta.

Não me provocam qualquer impressão os blogues anónimos. O anonimato, em si, não me parece algo condenável. É o uso que se lhe dá que merece análise crítica e reparos, quando for caso disso. Leio blogues escritos anonimamente sem qualquer distinção ou reserva em relação aos blogues assinados que também leio. O escrutínio que faço para incluir um blogue na minha lista de leituras tem sobretudo a ver com a qualidade do que é escrito, com o enriquecimento que julgo obter em cada visita e em cada leitura. O achincalhamento e o insulto não enriquecem ninguém, muito pelo contrário, e a pobreza que deles emana diz muito mais de quem insulta do que de quem é insultado.

Surgiu agora um blogue que acusa e tenta demonstrar que Miguel Sousa Tavares plagiou o seu bem sucedido romance "Equador". Devo confessar que li o "Equador", tal como devo confessar que já visitei o blogue em causa, da mesma forma que cheguei a visitar o célebre blogue que espalhava insinuações para todos os pontos cardeais no período mais fervilhante do processo Casa Pia. Agora, tal como na antes, esses blogues não me merecem publicidade directa, muito menos uma hiperligação. É certo que não posso evitar um certo desconforto perante a alegação de que um livro, que ainda por cima li, pode ter sido plagiado. Mas, de certa forma, esse desconforto não é maior do que aquele que me assola quando me deparo com um blogue criado única e exclusivamente para denunciar tal situação e escrito ao abrigo do anonimato. Ainda que, pelo menos para já, deixando de lado o meio escolhido, por alguma razão – pela seriedade das implicações, por decoro, por dignidade – julgo que, neste caso, se trata de algo que se deve fazer assumindo a responsabilidade de dar o nome. Caso contrário, por estas e por outras razões, continuará a ser fácil confundir o anonimato com o insulto anónimo e a desconfiar dos blogues como meios de opinião valiosos.